De cara lavada, calça e camisa, Tainá Müller recebeu Marie Claire pouco depois de desempacotar as duas últimas caixas da mudança. Desde que o filho, Martin, nasceu, há um ano e quatro meses, uma casa com quintal no isolado bairro do Itanhangá, no Rio, faz muito mais sentido para ela e o marido, o diretor de TV Henrique Sauer, do que o apartamento na Zona Sul em que viviam. Mas essa não é a única novidade na vida da atriz de 35 anos, que há dez empresta o rosto para personagens do cinema e da televisão. Ela se prepara para viver um papel de destaque na segunda fase de O Outro Lado do Paraíso, novela das 9, de Walcyr Carrasco, que estreia em setembro. Também está nos cinemas como Angélica, a mulher do personagem-título Bingo, filme brasileiro indicado para representar o país no Oscar. “Ela criou um sotaque que não estava no roteiro. É uma atriz completa. Foi a escolha perfeita para o papel”, diz o diretor do longa, Daniel Rezende. Também está nos planos produzir um documentário sobre a artista paraense Berna Reale e dirigir um longa com a história da poeta paulista Hilda Hilst.

As mudanças não acabam por aí. Tainá está diferente, sobretudo depois de um mergulho no feminismo. Ao lado de amigas como Fernanda Lima e Taís Araújo, montou, logo depois de o assédio cometido pelo ator José Mayer vir à tona, um grupo de estudos comandado pelas filósofas Márcia Tiburi e Djamila Ribeiro. “O feminismo me libertou. Ensinaram errado para a gente que mulher compete com mulher, quando na verdade a gente pode e deve acolher uma à outra”, afirma.

Nascida numa família de classe média em Porto Alegre, foi criada para ganhar o mundo. Culpa da mãe, Vera, que ensinou ela e as irmãs, a apresentadora Titi e a atriz Tuti, a serem independentes. Precoce, foi alfabetizada aos 5 anos, entrou na faculdade de jornalismo aos 16 e casou-se pela primeira vez, com o escritor Daniel Galera, aos 18, de quem se separou em 2007. Há quatro anos com Henrique, constrói um novo e igualitário modelo de família. Dividem integralmente os cuidados com o pequeno Martin. “Prometi a Tainá que, após o nascimento, não desgrudaria um só minuto dele na maternidade. E foi o que fiz”, lembra o marido. Foi por meio dele que a atriz teve o primeiro contato com o filho, internado na incubadora, em imagens enviadas pelo celular, enquanto ela se recuperava de um delicado parto prematuro. Em uma conversa de duas horas, Tainá refletiu sobre como os percalços e o feminismo a fizeram mais forte.

A maternidade contemporânea “O primeiro ano do Martin foi desafiador. Ser mãe é muito mais complexo do que eu imaginava. Não é nada fácil e isso precisa ser dito. Há uma sacralização: mãe não erra, não tem conflitos. Quando ele completou 6 meses, fui gravar a série Edifício Paraíso, do GNT, em São Paulo, e o Henrique ficava no camarim com o Martin para eu amamentá-lo nos intervalos. Passávamos dez horas gravando, tinha que decorar textos. Pensava que não conseguiria, mas a gente tira forças não sei de onde.

 

Em casa, dividimos tudo. Meu marido não “me ajuda”, ele é pai. O maior beneficiário dessa participação efetiva na criação do Martin é o Henrique. Aprendemos que a mãe que faz de tudo é normal, enquanto o pai que faz de tudo é um “paizão”. Não vou dizer que é um ‘paizão’ porque ele é apenas o pai que todos os homens deveriam ser.”

Aluna feminista “Cresci no Rio Grande do Sul e estudei num colégio de freiras. Aos 6 anos, dei um nó na blusa para refrescar a barriga e levei um puxão de uma freira, com violência. Hoje vejo que fui aprisionada. O machismo tira a potência da gente. Para conhecer mais profundamente o feminismo, uma turma de amigas e colegas formou um grupo de estudos Nas aulas da Márcia Tiburi, a gente vem desconstruindo tudo. Da história à filosofia, o que aprendemos na escola e na faculdade foi do ponto de vista masculino. A Djamila nos mostrou o feminismo interseccional: como mulher, sofro pequenas e grandes opressões, mas estou num lugar privilegiado. Sou branca e há pessoas querendo me ouvir, enquanto há uma inifinidade de mulheres invisíveis, negras, indígenas, de questões e lutas muito mais básicas, que são privadas de respeito, de dignidade.”

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